Guerras contemporâneas e os fantasmas do passado como as mazelas do presente
A guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, não é um evento isolado, mas parte de um padrão histórico de expansão territorial e disputas geopolíticas. A Rússia, sob o comando de Vladimir Putin, justifica sua invasão com narrativas de reunificação eslava e proteção de minorias russas, ecoando argumentos usados pela Alemanha nazista nos anos 1930 para anexar territórios. A História nos mostra que o nacionalismo exacerbado e a desestabilização de fronteiras frequentemente levam a conflitos prolongados, como ocorreu nas guerras balcânicas dos anos 1990. Além disso, a migração forçada de milhões de ucranianos reflete tragédias passadas, como o deslocamento em massa após a Segunda Guerra Mundial, evidenciando como civis pagam o preço das ambições dos líderes autoritários.
Já no conflito entre Israel e Hamas, a escalada de violência em 2023 e a posterior tensão com o Irã revelam uma disputa enraizada em colonialismo, ocupação e resistência. A criação do Estado de Israel em 1948, após o trauma do Holocausto, não resolveu a questão palestina, mas perpetuou um ciclo de violência. O ataque do Hamas em outubro de 2023 e a resposta israelense repetem padrões de radicalização vistos em outras guerras assimétricas, como a Argélia contra a França nos anos 1950. A História adverte: soluções militares sem diálogo político apenas alimentam ódios intergeracionais.
A intervenção do Irã, por sua vez, lembra os tempos da Guerra Fria, quando potências regionais e globais instrumentalizavam conflitos locais. O apoio iraniano a grupos como o Hezbollah e o Hamas segue a lógica de proxy wars, semelhante ao que EUA e URSS fizeram no Vietnã e no Afeganistão. Quando nações agem como atores indiretos em guerras alheias, a tendência é a prolongação do sofrimento civil, como ocorreu na Síria desde 2011. A História não se repete, mas seus ensinamentos são ignorados à custa de vidas humanas.
Migrações forçadas: O preço invisível dos conflitos
Os deslocamentos em massa provocados pelas guerras na Ucrânia, Sudão, Síria e Gaza são a face mais cruel dos conflitos modernos. Segundo a ONU, em 2023, o número de refugiados globais superou 110 milhões, patamar não visto desde a Segunda Guerra Mundial. A crise ucraniana, por exemplo, gerou o maior êxodo europeu em décadas, com mulheres e crianças representando 90% dos fugitivos—um paralelo sombrio com os refugiados da Iugoslávia nos anos 1990. A História demonstra que migrações forçadas não são efeitos colaterais, mas estratégias de guerra, como na limpeza étnica praticada na Bósnia.
No Oriente Médio, a Palestina vive uma diáspora contínua desde 1948, com gerações crescendo em campos de refugiados no Líbano e na Jordânia. A recente ofensiva israelense em Gaza deslocou mais de 1,7 milhão de pessoas, repetindo o trauma de 1967 e 1948. Esse ciclo de expulsões lembra o destino dos judeus sefarditas expulsos da Espanha em 1492 ou dos armênios fugindo do genocídio em 1915. Quando Estados falham em proteger minorias, o resultado é sempre o mesmo: exclusão perpétua e radicalização.
Na África, conflitos como no Sudão e na República Democrática do Congo mostram que migrações também são consequência do legado colonial.
Fronteiras artificiais criadas por europeus no século XIX alimentam disputas étnicas e golpes de Estado, como visto no Sahel. A História prova que a instabilidade política gera fluxos humanos desesperados—e a Europa, que colonizou esses territórios, agora fecha suas portas aos refugiados, repetindo a hipocrisia da Conferência de Evian (1938), quando países ocidentais negaram asilo a judeus perseguidos.
Democracias em colapso e a sombra do autoritarismo
A ascensão de governos autoritários na Hungria, Turquia, Índia e até em nações tradicionalmente democráticas, como os EUA sob Trump, segue um roteiro conhecido: crise econômica, polarização social e erosão institucional. Viktor Orbán, na Hungria, usa retórica anti-imigração e controle da mídia, táticas similares às de Mussolini nos anos 1920. A História ensina que o fascismo não surge por golpes violentos, mas por eleições manipuladas e gradualismo—como no Brasil de Vargas ou no Chile de Pinochet.
Na América Latina, El Salvador e Venezuela mostram como líderes populistas destroem freios e contrapesos em nome da “estabilidade”. Nayib Bukele, aclamado por sua guerra às gangues, governa por decreto, suspendendo garantias constitucionais—um eco dos caudilhos do século XIX. Já Nicolás Maduro mantém-se no poder através de eleições fraudulentas, seguindo o manual de Daniel Ortega na Nicarágua. A lição histórica é clara: quando instituições são corroídas, a democracia vira fachada.
Até mesmo a Europa, berço do Iluminismo, não está imune. A vitória de partidos de extrema-direita na Itália, Suécia e Holanda reflete o mesmo mal-estar que levou ao Brexit. O discurso anti-UE lembra o isolacionismo dos anos 1930, quando o apego ao nacionalismo acelerou a catástrofe. A História não só explica esses fenômenos, mas adverte: sem vigilância cívica, até as democracias mais consolidadas podem cair.
Nacionalismo e os limites da soberania
O ressurgimento do nacionalismo no século XXI—seja no “America First” de Trump, no “Brexit Means Brexit” britânico ou no revanchismo russo—é uma reação à globalização, mas também uma repetição de erros passados. A ideia de que Estados devem agir sem restrições internacionais lembra a falácia da “soberania absoluta” que levou às duas Guerras Mundiais. A invasão da Ucrânia, por exemplo, foi justificada por Putin como uma “esfera de influência”—o mesmo argumento usado pela URSS em 1968 para invadir a Tchecoslováquia.
Na Ásia, a China amplia seu autoritarismo interno enquanto pressiona Taiwan, repetindo a anexação do Tibete em 1950. O perigo está na crença de que fronteiras são linhas imutáveis, quando a História prova o contrário: tratados de paz (como o de Westfália em 1648 ou Versalhes em 1919) só funcionam quando há equilíbrio de poder e respeito mútuo. O atual desprezo pelo multilateralismo, com EUA e Rússia abandonando tratados de armas nucleares, lembra os fracassos da Liga das Nações nos anos 1930.
Por fim, o nacionalismo exacerbado alimenta não só guerras, mas a desumanização do “outro”. Discursos contra imigrantes na Europa ou muçulmanos na Índia seguem a mesma lógica do racismo científico do século XIX. A História já viu esse filme: quando o Estado propaga o mito do inimigo externo, a próxima cena é a violência institucionalizada. Cabe às sociedades quebrar esse ciclo—antes que seja tarde.