Interando-se da linguagem dos undergrounds
O "pajubá" e o dialeto dos presídios: A linguagem que a lei não decifra
Nos presídios brasileiros, o Pajubá — uma mistura de iorubá, gírias e termos cifrados — é usado por detentos para escutar a vigilância. Expressões como "caixão" (cela de castigo) e "passar a mão na lua" (assalto noturno) criam uma barreira linguística contra agentes penitenciários. Em São Paulo, o código "Bóia-Fria" se refere a um assassino de aluguel, enquanto "Arroz com Feijão" significa uma execução simples, sem requintes.
Já nos EUA, gangues como a Bloods e Crips usam números e gestos para se comunicar. O "187" (código penal californiano para homicídio) é sinalizado com os dedos, e "330" indica traição. Até a tatuagem vira mensagem: um "5" na mão direita pode significar lealdade à People Nation, enquanto um "6" representa os rivais da Folk Nation.
Mas nem só de violência vivem esses códigos. No sistema carcerário russo, os "Vor v Zakone" (ladrões na lei) usam a linguagem "Fenya", repleta de termos como "mokrusha" (suborno) e "obshchak" (fundo comum do crime). Quem fala errado é suspeito de ser um "mentiroso" — e o preço pode ser a vida.
Hackers e a criptolinguagem da deep web
No submundo digital, hackers usam "leetspeak" (como "h4ck3r" para "hacker") para burlar sistemas de busca. Nas darknets, mercados como o extinto Silk Road operavam com termos como "FE" (Finalize Early, código para confiança) e "DD" (Direct Deal, negócio fora do fórum). Moedas como Monero (XMR) são chamadas de "dinheiro fantasma" por seu rastreamento quase impossível.
Grupos como Anonymous e LulzSec comunicam-se via canários (mensagens ocultas em sites que, se desaparecerem, indicam invasão policial). Um exemplo clássico é o "OpSec" (Operational Security), que inclui regras como "nunca falar de crimes em claro" e "usar PGP ou morrer". Até emojis viram códigos: uma 🦄 pode ser um vendedor confiável, enquanto 🐍 denuncia um traidor.
Mas a linguagem mais temida é a dos ransomwares. Cibercriminosos usam "GOODWARE" para se referir a malware não detectável e "FUD" (Fully Undetectable) para ataques invisíveis. Quando um alvo é "queimado", entra no "graveyard" (cemitério de vazamentos). E se um hacker diz "lá ele" em fóruns brasileiros, é sinal de que a polícia está próxima.
Criptomoedas e os códigos do mercado negro
No mundo das criptomoedas, termos como "shitcoin" (moeda sem valor) e "HODL" (segurar investimento, mesmo que errado) são comuns. Mas no underground, "CoinJoin" (mistura de transações para anonimato) e "Wasabi Wallet" (lavagem de bitcoins) são essenciais. Traficantes usam "Tumbler" para limpar fundos, e "XMR" (Monero) é a preferida por ser "mais escura que o breu".
Nas rogue markets, códigos como "Escrow" (pagamento em garantia) e "Multisig" (transação com múltiplas assinaturas) protegem compradores e vendedores. Um "Vendor" de drogas pode anunciar "A1" (qualidade premium) ou "Brick" (quilo de cocaína). Já "LSD" vira "Lucy", e "420" é o universal código da maconha.
Mas o maior segredo está nas "Dead Drops" — locais físicos onde mercadorias são escondidas após pagamento em crypto. Coordenadas são enviadas em "CT" (Cipher Text), e quem erra o "Paranoia Level" (nível de segurança) acaba com um "CD" (Controlled Delivery — entrega monitorada pela polícia).
A sobrevivência dos códigos: Como os undergrounds se reinventam
Sistemas como o "Calão" (gíria portuguesa de presídios) e o "Verlan" (francês invertido, usado por gangues de Paris) mostram que linguagens cifradas evoluem. No Brasil, o "morse do morro" — batidas em paredes ou assobiar em tons específicos — ainda alerta sobre operações policiais. Até o "funk proibidão" funciona como código, com letras que avisam sobre "bico" (tiroteio) ou "corre" (tráfico).
Na era digital, "Steganografia" (esconder mensagens em imagens ou áudios) substitui cartas em código. Hackers usam "Book Ciphers" (livros como chave de decodificação) e até "Tweets suspeitos" (como os de Trump lidos como sinais pela QAnon).
Mas a regra de ouro permanece: "Quem fala demais dá pala". Seja no crime, na hacktivismo ou no mercado negro, a linguagem é a arma invisível — e quem a domina, sobrevive. O resto vira "DOX" (dados vazados) ou "BO" (Boletim de Ocorrência).